Existem máximas que estão eternizadas em um discurso que todo brasileiro escuta desde que nasce. “O Brasil é o país do futuro”, “Somos uma nação miscigenada e por isso no Brasil não há racismo aqui”.São contos que muitos crescem acreditando, principalmente quem nasce do lado rico e branco.
Mas a realidade brutal que ter direitos é um sinônimo de ter poses. Seus recursos definem até onde você pode ir, quem você pode ser, com quem você pode falar, onde você pode estar, o que você vai comer, com quem irá se divertir, as pessoas com quem poderá partilhar um elevador.
O Brasil é o país da carteirada. É o país do “Você não sabe quem eu sou”, “Você sabe com quem está falando”. É o país onde sempre se cria um degrau para preservar o direito de quem é elite há gerações. É o país onde um perfume não é bom, porque aquela marca também vende para os pobres da classe C, mesmo tendo a Reese Witherspoon como garota propaganda.

Mas ao perceber que a parede de vapor não era física, jovens resolveram fazer um rolê no pico dos outros, porque tudo que havia separando eles de um espaço público era a porta de entrada, que era aberta a quem tivesse pés ou rodas.
E eles entraram, com suas roupas, com seu dialeto, com trejeitos. Mal sabiam que o conto se desfazia. Esse país de todos é, na verdade, de alguns. Essa nação sem racismo, possui uma discriminação intrínseca muito mais forte, a social. Você pode ser negro, desde que travestido de branco. Não importa sua cor, importa quanto você ganha, como você se veste, como você fala, o que você consome e como você consome.

Você quer culpar o jovem por invadir o shopping? Ele não pode invadir algo que é aberto ao público. Você quer culpar alguns por quebrarem um loja e roubarem algo? Você está mirando numa consequência e não no problema. Alguém realmente é culpado por haver rolezinhos. Não seria preciso haver rolezinhos. Não se as pessoas fossem tratadas de forma igual e não através da aparência do poder de compra. Não se o mercado não trabalhasse numa lógica de exclusão dos pobres como um meio de gerar valor a ser explorado e cobrar de você um valor abusivo, muito superior ao preço real e justo. Não haveria rolezinho se alguém não tivesse que ser excluído.
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No final, se os rolezinhos acontecem, a culpa é de qualquer um ali naquele shopping, menos dos jovens que o praticam. Eles são uma mera reação. É como uma alergia, seu corpo gritando quando entra em contato com algo estranho. Esse jovens são a reação de um corpo invadido por algo malicioso, eles são um grito de uma classe violada por uma lógica elitista e cruel. Eles não são causa, são consequência.
E a menos que a sociedade identifique isso e passe a trabalhar significativamente nos abismos de direitos e acessos para maior parte da população, outras explosões sociais explodiram na cara dessa classe A nariz empinado. Seu mundo será cada vez mais invadido. Aos poucos, ele será invertido e colocado em conflito, pois será atropelado por uma realidade que será criada por uma orgânica ação popular. E teremos rolezinhos de tudo quanto é tipo e em tudo que há de lugar. E quem criou o monstro precisa aprender a com ele lidar. Não de forma violenta, não de forma repressiva, mas de forma inteligente e inclusiva, pois hoje o rolezinho também é consumidor. Talvez hoje apenas de um sorvete na praça de alimentação, um boné e uma camiseta, mas é consumidor também. Eles querem fazer parte, querem ser alguém nessa lógica de consumo. Isso é criação do próprio mercado.
Então fica aqui a dica, procure o culpado certo para o dedo apontar.
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