29 maio 2012

Tempos do mimimi insuportável


Devemos realmente estar próximos a um frenesi incontrolável. As pessoas estão com os nervos expostos, com a sensibilidade aflorada a níveis críticos. Só é possível encontrar essa razão para o patamar de coitadismo que alcançamos.

Manifestações claras de falta de bom senso e evidente falta de senso de humor. Uma pequena tirada, uma simples brincadeira tem sido resultado para manifestações públicas de repúdio. Bandeiras contra discriminação têm sido levantadas contra piadas. O humorista é o grande terrorista do século XXI, pelo visto.

Algo completamente ignóbil e inacreditável está sendo realizado com a Nova Schin. Não sei quantos de vocês tiveram a oportunidade de assistir ao mais recente comercial da marca de cerveja. É hilário. É uma simples brincadeira, que simula uma “sacanagem” de um grupo de amigos com um membro que se considera o conquistador.

Cena do comercial da Nova Schin retirado do ar
Os amigos arrumam um travesti para o amigo. Que quase é enganado. Pronto, a piada é essa. O cara não queria o traveco e quase caiu no canto. Isso foi o suficiente para um levante do movimento de transformistas contra o comercial. Algo completamente imbecil.

Ou seja, para o movimento, se o cara não achar lindo ter sido empurrado a um travesti ele está sendo preconceituoso? Isso não pode ser colocado em um comercial de cerveja? Já é tão raro um comercial da bebida não ser praia e mulheres seminuas, quando algo diferente é feito, é combatido por causa de uma bobagem?

O comercial não coloca o travesti como uma má pessoa, alguém ruim; não faz nenhuma insinuação pejorativa que deprecie o travesti. Apenas coloca que o rapaz, heterossexual acabou se sentindo atraído por ela, pois foi ludibriado pelos amigos. Ora, como se isso não acontecesse e não fosse o objetivo de um transexual chegar ao grau de aparência do sexo oposto que seja confundido como sendo este? Ou os participantes do BBB 11 foram preconceituosos ao não reconhecerem Ariadna como transexual durante a convivência com ela?

Mesmo assim, a pressão realizada pela organização levou a Nova Schin a retirar o comercial do ar e do próprio Youtube. E o comercial era bom. Uma pena.

Outro movimento completamente desproporcional é dos grupos de adoção. Estão criando todo um barulho por causa de uma piada do filme Os Vingadores (The Avengers). No meio do filme, o personagem Thor defende o vilão Loki por ser seu irmão e é confrontado com o fato de Loki ter matado mais de 80 pessoas em dois dias. Para justificar, Thor diz que o Loki é adotado.

Para os fãs da história, isso tinha um peso de humor ainda maior. Pois os fãs sabem que a construção da personalidade de Loki está completamente atrelada ao fato de ser o irmão adotado mais novo de um deus nórdico. Por ser mais fraco, ver o irmão ascender como um herói, o querido do pai, tudo isso contribui para personalidade de Loki. Esse contexto atrelado ao fato de ser adotado são o combustível utilizado para o conflito interno do personagem que o faz decair de um deus nórdico a um vilão.

Isso inclusive é explorado no primeiro diálogo entre Loki e Thor no filme. Com isso, a piada ganha algo mais precioso, seu contexto. Fazer um levante por causa de uma piada feita dentro de um contexto que não visa depreciar quem é adotado. É evidente que a adoção envolve uma série de problemáticas a serem enfrentadas pelos pais e pela criança. E uma das possíveis problemáticas foi utilizada para construção da personalidade do vilão e o personagem é bom porque essa construção é verossímil a possibilidade; os ciúmes, a inveja, o sentimento de rejeição, a negação, são todos sentimentos viáveis e reais. Isso tornou Loki palpável.

Mas infelizmente tudo que foi enxergado pelos movimentos estava nas letras amarelas da legenda “Ele é adotado”. Houve mães de filhos adotados reclamando que se sentiram constrangidas ao assistirem ao filme com as crianças. Utilizo crianças, pois as mães que reclamavam possuem filhos menores de 12 anos.

A classificação do filme é de 12 anos. Ou seja, ele não é recomendado para crianças, apenas para maiores de 12 anos. Se a mãe expos o filho menor a um filme que não é indicado pelos produtores, pelo conselho regulador e pelo próprio cinema para aquela criança, a responsabilidade pelo constrangimento é toda dela.

Eu entendo que uma criança possa se sentir diminuída pela piada, pois não terá condições de compreender o contexto. Mas pudera, a película não foi feita para que ela entendesse. Não ainda. Há muita revolta para uma situação que foi criada por quem está revoltado.

Se fosse desta forma, não se poderia fazer piadas com míopes, gordos, carecas, estrangeiros... Alguém sempre estará relacionado a um grupo minoritário e identificado por uma característica física ou social qualquer. Por isso não se pode falar de ninguém ou de nada? Estamos contaminados por essa cultura do politicamente correto e nos deixamos escravizar.

As pessoas estão muito frágeis. E estão frágeis porque estão acanhadas, assustadas, como um pequeno animal selvagem que levou uma pedrada e não consegue fugir mais. A reação instantânea é a de agressão; você em algum momento na sua vida foi atingido, por isso pegou o trauma, isso o colocou na defensiva. Aconteça o que for, mesmo que não seja algo direcionado a você, sua resposta imediata será a autodefesa, mesmo que cega e irracional.

É preciso desarmar, do contrário nunca poderemos aproveitar a vida, nunca poderemos sair do lugar. Pois, se a cada mero entretenimento ficarmos de mimimi, tudo que conseguiremos é destruir nossas próprias vias de escape desse caos que nos faz ficar cada dia mais neuróticos.

É preciso relaxar mais e entender que a diferença entre apologia contrária e uma simples brincadeira. No comercial e no filme, era tudo brincadeira. Todo mundo sabe. Todo mundo viu. Ninguém passou a tratar mal transexuais por causa do comercial. Ninguém vai deixar de adotar por causa do filme. Um pouco mais de senso de humor, por favor.

Nenhum comentário: