Devemos
realmente estar próximos a um frenesi incontrolável. As pessoas estão com os
nervos expostos, com a sensibilidade aflorada a níveis críticos. Só é possível
encontrar essa razão para o patamar de coitadismo que alcançamos.
Manifestações
claras de falta de bom senso e evidente falta de senso de humor. Uma pequena
tirada, uma simples brincadeira tem sido resultado para manifestações públicas
de repúdio. Bandeiras contra discriminação têm sido levantadas contra piadas. O
humorista é o grande terrorista do século XXI, pelo visto.
Algo
completamente ignóbil e inacreditável está sendo realizado com a Nova Schin.
Não sei quantos de vocês tiveram a oportunidade de assistir ao mais recente
comercial da marca de cerveja. É hilário. É uma simples brincadeira, que simula
uma “sacanagem” de um grupo de amigos com um membro que se considera o
conquistador.
Cena do comercial da Nova Schin retirado do ar |
Os amigos
arrumam um travesti para o amigo. Que quase é enganado. Pronto, a piada é essa.
O cara não queria o traveco e quase caiu no canto. Isso foi o suficiente para
um levante do movimento de transformistas contra o comercial. Algo
completamente imbecil.
Ou seja, para
o movimento, se o cara não achar lindo ter sido empurrado a um travesti ele
está sendo preconceituoso? Isso não pode ser colocado em um comercial de
cerveja? Já é tão raro um comercial da bebida não ser praia e mulheres
seminuas, quando algo diferente é feito, é combatido por causa de uma bobagem?
O comercial
não coloca o travesti como uma má pessoa, alguém ruim; não faz nenhuma
insinuação pejorativa que deprecie o travesti. Apenas coloca que o rapaz,
heterossexual acabou se sentindo atraído por ela, pois foi ludibriado pelos
amigos. Ora, como se isso não acontecesse e não fosse o objetivo de um
transexual chegar ao grau de aparência do sexo oposto que seja confundido como
sendo este? Ou os participantes do BBB 11 foram preconceituosos ao não
reconhecerem Ariadna como transexual durante a convivência com ela?
Mesmo assim, a pressão realizada pela organização levou a Nova Schin a retirar o comercial do ar e do próprio Youtube. E o comercial era bom. Uma pena.
Outro
movimento completamente desproporcional é dos grupos de adoção. Estão criando
todo um barulho por causa de uma piada do filme Os Vingadores (The Avengers).
No meio do filme, o personagem Thor defende o vilão Loki por ser seu irmão e é
confrontado com o fato de Loki ter matado mais de 80 pessoas em dois dias. Para
justificar, Thor diz que o Loki é adotado.
Para os fãs
da história, isso tinha um peso de humor ainda maior. Pois os fãs sabem que a
construção da personalidade de Loki está completamente atrelada ao fato de ser
o irmão adotado mais novo de um deus nórdico. Por ser mais fraco, ver o irmão
ascender como um herói, o querido do pai, tudo isso contribui para
personalidade de Loki. Esse contexto atrelado ao fato de ser adotado são o
combustível utilizado para o conflito interno do personagem que o faz decair de
um deus nórdico a um vilão.
Isso
inclusive é explorado no primeiro diálogo entre Loki e Thor no filme. Com isso,
a piada ganha algo mais precioso, seu contexto. Fazer um levante por causa de
uma piada feita dentro de um contexto que não visa depreciar quem é adotado. É
evidente que a adoção envolve uma série de problemáticas a serem enfrentadas
pelos pais e pela criança. E uma das possíveis problemáticas foi utilizada para
construção da personalidade do vilão e o personagem é bom porque essa construção
é verossímil a possibilidade; os ciúmes, a inveja, o sentimento de rejeição, a
negação, são todos sentimentos viáveis e reais. Isso tornou Loki palpável.
Mas
infelizmente tudo que foi enxergado pelos movimentos estava nas letras amarelas
da legenda “Ele é adotado”. Houve mães de filhos adotados reclamando que se
sentiram constrangidas ao assistirem ao filme com as crianças. Utilizo
crianças, pois as mães que reclamavam possuem filhos menores de 12 anos.
A
classificação do filme é de 12 anos. Ou seja, ele não é recomendado para
crianças, apenas para maiores de 12 anos. Se a mãe expos o filho menor a um
filme que não é indicado pelos produtores, pelo conselho regulador e pelo
próprio cinema para aquela criança, a responsabilidade pelo constrangimento é
toda dela.
Eu entendo
que uma criança possa se sentir diminuída pela piada, pois não terá condições
de compreender o contexto. Mas pudera, a película não foi feita para que ela
entendesse. Não ainda. Há muita revolta para uma situação que foi criada por
quem está revoltado.
Se fosse
desta forma, não se poderia fazer piadas com míopes, gordos, carecas,
estrangeiros... Alguém sempre estará relacionado a um grupo minoritário e
identificado por uma característica física ou social qualquer. Por isso não se
pode falar de ninguém ou de nada? Estamos contaminados por essa cultura do
politicamente correto e nos deixamos escravizar.
As pessoas
estão muito frágeis. E estão frágeis porque estão acanhadas, assustadas, como
um pequeno animal selvagem que levou uma pedrada e não consegue fugir mais. A
reação instantânea é a de agressão; você em algum momento na sua vida foi
atingido, por isso pegou o trauma, isso o colocou na defensiva. Aconteça o que
for, mesmo que não seja algo direcionado a você, sua resposta imediata será a autodefesa,
mesmo que cega e irracional.
É preciso
desarmar, do contrário nunca poderemos aproveitar a vida, nunca poderemos sair
do lugar. Pois, se a cada mero entretenimento ficarmos de mimimi, tudo que
conseguiremos é destruir nossas próprias vias de escape desse caos que nos faz
ficar cada dia mais neuróticos.
É preciso
relaxar mais e entender que a diferença entre apologia contrária e uma simples
brincadeira. No comercial e no filme, era tudo brincadeira. Todo mundo sabe.
Todo mundo viu. Ninguém passou a tratar mal transexuais por causa do comercial.
Ninguém vai deixar de adotar por causa do filme. Um pouco mais de senso de
humor, por favor.
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